Há muitos anos, talvez há tantos quanto os que ando de bike,
que me deparo com uma enorme dificuldade em escolher a modalidade, dentro do
MTB, que melhor “me assenta”. XC é para pessoal subnutrido com 2% de gordura,
em Portugal não há dual nem 4x e o trial é muito parado para o meu gosto. Já o
downhill “à antiga” servia perfeitamente, mas, quando “regressei” às bikes em
2007, o downhill tinha evoluído monstruosamente, e já se tinha dividido em sub
modalidades com o freeride, slopestyle, big mountain, avalanches,etc… e nenhuma
desta me assentava bem. Por um lado não há big mountains em Portugal e poucos
ou nenhuns meios mecânicos de ascensão por cá existem, por outro, não há “big
balls” para os saltos de fé do freeride e slopestyle. Para além disso, houve a
debandada geral dos elementos da GAS e esta deserção muito contribuiu para que
nunca se tenha resolvido o eterno problema do transporte. Perante isto,
persistia a dúvida, fazer ou não fazer downhill?
Never ending singles
A resposta estava mais perto do que imaginava, aliás, já a
tinha dado há muito tempo… em tempos idos o downhill fazia-se em qualquer
caminho com inclinação. E para lá chegar, era de bike. O sacrifício da subida
era recompensado com o gozo da descida. Simples né?
Não, “né” de todo. É que isto era com a bike do downhill do
antigamente, porque agora, com 240mm atrás e 200mm à frente, não se chega lá
acima, pelo menos a pedalar. Mas calma, não está tudo perdido. A mesma evolução
tecnológica que permite ângulos de direcção de 61º também desbravou outros
caminhos, nomeadamente o das “bicicletas de longo curso pedaláveis”. E assim,
perante a necessidade comercial de se venderem estas novas bikes, se baptizou
uma modalidade que sempre existiu, mas que nunca tinha tido nome: o Enduro. A
evolução tecnológica é substancialmente maior do que a do conceito, sendo que
este último se resume a “subir, para depois descer”. Já em termos das bikes,
dizem muitos “especialistas” que as all-mountain / enduro são o topo da evolução tecnológica
das 2 rodas. Não gosto muito destas falácias comerciais, mas até concordo com
os marketeers, motivo pelo qual já tive duas desta “raça”.
Abençoada com uma geometria multifacetada
O que me levou a hoje escrever este post foi o passeio
excelente que dei ontem na zona da Serra da Carregueira. É que tocou
praticamente em todas as pequenas coisas que me fazem adorar este desporto…
grandes vistas, o sossego do campo, a pica das descidas, os singles
fechadinhos, os trilhos novos, a lama nos dentes, etc. Foi um passeio extenso,
mais de 3 horas de bike, mas as enduristas têm uma posição de condução
descomprometida com o cronómetro, são mais confortáveis que muitos sofás, e por
isso, não custou nada. Para além disso, o facto de ser tão pedalável,
permitiu-me, numa só manhã, visitar 3 spots de “pistas” (reparem que escrevo
pistas, e não trilhos), um deles descoberto por mero acaso. A primeira incursão
foi no antigo spot do CFT, que depois de muitos anos a sofrer erosão, voltou a
ter actividade e já tem um wallride e mais uns saltos montados. Dali, rumei até
à zona da pedreira da prisão e daí entrei no Belas CC. E foi aí que descobri um
trilho novo, com inicio na famosa antena disfarçada de pinheiro, bem no coração
do BCC. Não sei quanto tempo vai durar aquilo, atendendo à sua localização tão
inusitada, e por isso fiz questão de o descer 2 vezes, com saltos e tudo. Dali,
foi rumar até à mata de Belas e às pistas dos “Maus Caminhos”. Apesar de ter
ido ao chão e de ter um belo lanho na canela direita, cheguei a casa satisfeito
e com o problema do “downhill sem transporte” resolvido. E é muito mais barato,
perfeitamente adequado aos tempos de contenção que vivemos!
Water resistant