domingo, 30 de junho de 2013

Downhill is dead, climb for yourself


Já aqui tinha sido previsto que os canhões de DH iam entrar em declinio nos próximos tempos. Se Darwin olhasse para o mundo das bicicletas ia ver aqui algumas semelhanças com as teorias evolucionistas. O DH começou por ser um predador "generalista" e os trilhos que devorava eram igualmente generalistas. Nos anos 90 o DH era um conceito democrata, era para todos, para todos os tipos de massas corporais, era em quaisquer caminhos a descer, era nas mesmas bikes com que se ia provas de XC, talvez se tivesse escolhido logo uma máquina de sloping acentuado e para as provas de DH se lhe metesse um guiador elevado, mas as bikes eram as mesmas, as tais "generalistas".

Ainda se lembram do Turcifal?


Mas tudo evolui. E as tais generalistas, em 20 anos de evolução do downhill, tornaram-se em "chitas" altamente especializadas. Os trilhos evoluiram com elas para pistas de dificuldade inimaginável, continuando com a analogia, para "gazelas de grant", cujo único predador são precisamente as tais máquinas de DH especializadas. Mas isto incorre no problema da especialização: por um lado, nem ninguém com outro tipo de montada que não seja um "big rig"se aventuraria em pistas de classe mundial, nem por outro, ninguém se atreve a levar as "chitas de DH" a caçar outra coisa se não pistas de alto nivel de dificuldade. Nem foram desenhadas para outra coisa senão para isso. E tal como Darwin já tinha previsto, as espécies especialistas têm uma longevidade curta, e ficam reservadas a nichos onde determinadas condições naturais extraordinárias ocorram.

A antiga alternativa


O que me leva a escrever este post foi a visita que fiz durante as férias à Serra do Socorro, ao local em que apenas há 5 anos havia provas de uma bem viva taça de Portugal de DH e uma pista cuidada e limpa. Mas nessa visita, mal cheguei ao campo de futebol que acolhia o paddock dessa prova, percebi que algo  estava mal. O excesso de vegetação na rampa de acesso deixava adivinhar algo menos bom, mas foi quando vi o drop final e a vertical que lhe é alternativa, que  percebi que aquela, era mais uma "gazela de grant" que havia sucumbido ao declinio do DH.

No landing

As pistas de DH sempre precisaram de alguém que as construisse e cuidasse delas. Precisam de mimo  e de muito trabalho, de muitas horas de enxada. Seria de esperar que apenas florescessem junto a meios mecânicos ou grandes inclinações. Quer dizer, se vives em whistler hás de ter uma bike de DH e provavelmente és um traibuilder activo, ou então não vives em whistler mas tens um grupo de amigos que são teimosos e continuam a escavar furiosamente o monte lá ao pé de casa, mas mesmo estes, são cada vez menos. Depois do hype da modalidade na década de 2000, que foi tal que havia pistas em todo o lado, havia provas em todo o lado e toda a junta de freguesia organizava um DHU, vem a retracção da modalidade, que despojada de uma característica genética fundamental do MTB, a autonomia, vai continuar a sua especialização e afastamento da modalidade mãe, e muitas gazelas de grant, como a da serra do socorro, vão morrer.