Parece
que foi ontem que, no estacionamento junto à mata de Belas, apareceram
uns malucos com um Fofo de Belas e uma vela lá enfiada para me cantarem os parabéns
no meu 30º aniversário
antes de mais uma série de descidas no extinto trilho dos marretas.
Parece que foi ontem, mas já passaram 5 anos. Os marretas já só existem
nos vídeos que fizemos na altura, o Covas deixou de andar de bike, o Tó
deixou de voar, o Jay virou-se para o cross,
os putos que estiveram connosco nesse dia já devem ter casado, Belas já
ardeu meia dúzia de vezes e, com tanto fado e abandono, o downhill deixou de
ser opção.
Marretas, antes do 1º incendio
Mas desenganem-se os que, por este prefácio, se convenceram de que a minha paixão pelas bikes morreu. Porque na verdade, nestes 5 anos, a paixão até se inflamou, mas por uma vertente que, atendendo à impossibilidade de continuar a fazer descidas (mais ou menos) loucas num canhão de DH sem autonomia de locomoção, se apresentou como sendo a (única) opção viável – o Enduro. E não entendam que esta, foi uma opção forçada pela ausência de outras opções. É que o Enduro, traduz de forma muito mais fiel, o “downhill” que me fez apaixonar por este desporto há mais de 20 anos, um downhill que, tal como escrevi no primeiro post deste blog, se representa pelo formato de “time trial” puro e duro e não pelo formato que adoptou no inicio da década de 2000 de “corrida de obstáculos”, em que há muito menos de skills de pilotagem e muito mais de “mind games”, em que saltar de penhascos e enfrentar trialeiras cheias de pedras do tamanho de frigorificos e micro-ondas se tornou “normal”. E na verdade, nunca gostei muito desta importação do “freeride north shore” e “big mountain” para o DH. Nesta importação, e ao bom estilo “lenhador brutamontes” a que os canadianos nos habituaram, em vez dos skills de pilotagem, avalia-se o tamanho dos tomates e a falta de amor pela vida. E apesar de, por aqui, haverem tomates suficientes para abastecer a Compal durante dois anos, também não falta amor pela vida, e talvez por isso, nunca me tenha sentido realmente confortável para ultrapassar determinados obstáculos que o "DH moderno" apresenta.
E assim, e apesar dos 35 anos ja valerem aqui ao menino a inscriçao na classe de Master B, continua-se a apostar numa relaçao com as bicicletas que previligia o divertimento. Sem querer cair no cliché do "mais que um desporto, é um estilo de vida" há pouco tempo apercebi-me o quanto de verdade já tinha este cliché em mim... um video altamente sarcástico sobre os "29 passos para ser um mountain biker" fez-me ver que, tal como o surf ou snowboard, este é um desporto muito especial, que tem uma certa "espiritualidade" envolvida, e que é mais do que "ir andar de bike" meia duzia de horas por semana.