sexta-feira, 22 de julho de 2011

Tu não és um mountain biker


Desculpa lá, mas não és.


Sim, tens a bike, e o equipamento, mas…falta-te algo. Podes ter entrado neste mundo há poucos ou muitos anos, podes ser novo ou velho, és da cidade ou do campo…mas não és um mountain biker.



O btt é um desporto com cerca de 30 anos, que começou a aparecer neste nosso cantinho no final dos anos 80,e teve uma grande fase de expansão no final dos anos 90. Na altura, ser “radical” era o que estava a dar, e btt era sinónimo de competição, e então era normal ver provas de cross country com centenas de inscritos, apenas para fazerem algumas voltas a um circuito, a todo gás. Mas depressa muitos desses participantes mudaram de ideias, porque por essa altura, as bikes eram tudo menos confortáveis, estáveis ou eficientes. Suspensão e travões eram áreas ainda em desenvolvimento, e os componentes com alguma qualidade eram inacessíveis á maioria dos praticantes. Dos que ficaram, uns continuaram na competição, mas a maior parte (e eram bem poucos) dedicou-se aos primeiros passeios organizados (guiados, nas calmas!),ou mesmo a andar por aí sozinhos, à descoberta, de trilhos e dos próprios limites. Andar sozinho, para quem começou a fazer btt nos anos 90, era muitas vezes a única hipótese, não havia net ou telemóveis para combinar pedaladas, e os praticantes eram menos que poucos!

1991, começava a minha epopeia aos comandos de uma coisa destas


Mas as bikes foram evoluindo, e ficando mais apelativas. Confortáveis, fiáveis, eficientes e acima de tudo, baratas. Começou a ser possível fazer mais de 4h no mato sem ficar maltratado das costas, e principalmente, sem que a bike perdesse peças pelo caminho.

1994 – A minha Nishiki Alien - Designed by Richard Cunningham – enough said!

E então, muita gente descobre o btt. Uns por influência de outros, porque o médico mandou fazer exercício, porque as únicas bikes à venda em grandes superfícies eram rodas 26, porque “quando era puto divertia-me a andar de bike, deixa lá ver se ainda…”, porque…várias coisas. E a coisa começa a crescer. A competição a sério passa para segundo plano, e os passeios, até aqui, meros encontros de malta que queria conhecer novos trilhos e confraternizar com pessoas que partilhavam o mesmo gosto, começam transformar-se. Por pedido de alguns participantes, a quilometragem aumenta, e a dificuldade técnica diminui. Deixam de ser guiados e com andamento controlado, para haverem percursos marcados e de andamento livre. Aqui acaba muito do convívio e entreajuda presente nos passeios guiados, para aparecerem os “picanços” e “treinos para a prova tal”. Cicloturistas de estrada são atraídos para estes passeios de longa distância, por não haverem na sua modalidade suficientes passeios de andamento livre, à imagem de Espanha ou França, por exemplo. Habituados a “mordomias” como assistência técnica, abastecimentos fartos e almoços de gastronomia típica da região, cedo impõem às organizações tratamento igual nestes passeios, e aqui acaba um dos princípios basilares do btt: a autosuficiência. A ideia de levar umas barras de cereais ou umas sandes no bolso do jersey é abandonada, e passa a ser a organização a ter a função/obrigação de alimentar antes, durante e depois do passeio os participantes, com todos os custos que isso acarreta. Brindes, banhos (“quentes, ou então nada feito para o ano que vem!”)…e temos algo completamente diferente do que tínhamos há apenas alguns poucos anos.

A avaliar pelo letring, o que é mesmo importante é haver porco no espeto


E então aqui estás tu. Compraste uma bike e juntaste-te ao grupo. Como não queres ficar mal visto entre os teus pares, foste para aquela de marca conhecida, talvez até a de carbono, porque é “mais rápida”, e equipaste-a com pneus para rolar bem, fininhos e com tacos baixos. Como não tens técnica, andas pelos estradões, e não te aventuras com a tua bike por sítios difíceis, porque “é perigoso”, ”perdes o ritmo”, ou “assim é difícil fazer 80km esta manhã”. Nunca te aventuras a descobrir caminhos novos, muito menos sozinho, mesmo com o telemóvel, porque “pode não haver rede”, e…vais andar para a estrada, ignorando que praticamente todos os acidentes realmente graves com bicicletas são na sua maioria atropelamentos. E começas a fazer kms na estrada, e talvez compres umas rodas para montar uns slicks, ou até uma bike de estrada! Ganhas ritmo, poupas o material…e não fazes btt.


Suspensão total e pneus slick 1.75 – Alguém me ajuda a perceber o conceito!?!

E aí vais tu para as maratonas, provas feitas à tua medida: Muitos quilómetros de estradão, sem zonas técnicas para não criar engarrafamentos, com abastecimentos e almoço dignos de um festival gastronómico (mas não de um atleta), assistência técnica…e até o belo do carro-vassoura! Mais um dorsal para a vasta colecção… Aqui competes contra outros como tu, não existe tempo para conversas ou entreajuda, tens de dar o teu melhor, fazer menos tempo que o ano passado, ficar à frente do amigo que te tem andado a “picar”...e à frente de tantos que apenas foram para se divertir, que até pararam para almoçar, tirar fotos, ou ajudar quem teve um problema mecânico…mas o que interessa mesmo é que fizeste “237º em 2500!”. Mal sabes tu, que se alinhasses à partida de uma prova de verdadeiro btt, não terias a mínima hipótese e ias ao chão duas vezes na primeira zona técnica.

Engarrafamentos fora de estrada


Mas espera, nem tudo está perdido, tu não estás perdido!
Pega na tua bike e vai experimentar coisas. Subidas e descidas que vês os outros fazerem e nem nunca tentaste. Pára no alto das subidas e aprecia a vista. Vai a passeios verdadeiramente para passear e conhecer novos trilhos com os amigos e mete conversa com outros participantes, vais ver que não é assim tão mau. Inscreve-te numa prova de xc e vê o que o btt de competição tem sido até aqui, quem sabe se não gostas…Troca essa bike pela que realmente precisas, não são as opiniões dos outros que te fazem rodar os cranks. Se te doem as costas, se calhar essa bike de XC racing, que nunca vais usar numa prova de XC a sério, não é a melhor opção para ti, não é?

Não sigas planos de treino feitos para profissionais, se não tens vida para isso e se não és profissional. O mais certo é ficares saturado e largares a bike…anda quando te apetece. Se gostas mesmo, vai-te apetecer quase sempre. Não te leves demasiado a sério, deixa de treinar e começa a andar de bicicleta. DIVERTE-TE, lembra-te de quando eras miúdo e andavas de bicicleta, será que já te esqueceste? Respeita os outros, a Natureza, a ti mesmo. Respeita a tua bike! Ela foi desenhada e construída para andar no mato, em terreno acidentado, e não na estrada. Não é assim tão difícil, e acredita em mim, vais gostar muito mais deste desporto.


NOTA DO EDITOR: este texto foi adaptado de um que encontrei na net e que não resisti a partilhar convosco. Quem conhece a minha relação com o BTT, sabe que este texto, bem que podia ter sido integralmente escrito por mim, mas não foi, o que para mim é um alívio... fiquei a saber que não sou o único que acha que médias de 30kmh em VERDADEIRO BTT, estão só ao alcance dos senhores da WC...

1 comentário:

Anónimo disse...

adorei o artigo (q por acaso tb ja o tinha encontrado por essa net fora), e consegui me rever nos dois lados da cronica... adoro torresmos e mines a seguir a uma prova. mas nem tenho slicks de 1.75 nem carbono, e adoro andar sozinbho e descobrir novos caminhos.

jay