sexta-feira, 22 de julho de 2022

Eat. Ride. Sleep. Repeat 1000x

 

A minha relação com “ciclómetros” é longa e complicada. É uma coisa dos tempos de miúdo, de quando a bicicleta era a nossa mota. Metíamos reflectores em todo o lado, buzinas, luzes de dínamo, ou  qualquer coisa que aproximasse a nossa bike... de uma mota. E por isso, quando um dia mais tarde soube que havia uns conta-quilómetros para as bicicletas fiquei logo interessado. Ainda por cima digital, como o do Kitt... E poupei umas mesadas e acabei por comprar um para a minha Esmaltina.

 

Remember kids...

 
Mas depois, veio a formação “mtbistica” com o pessoal do Bike Center. E eles não gostavam muito de ciclómetros. Do lado do mtb recreativo, diziam-me que aquilo estragava o ride, que um gajo passava a volta a olhar para aquilo, e que no fim da volta te perguntam “então, que tal foi?” e acabas por responder “foi boa, fiz uma média de xx/kmh”. Do lado competitivo, a estrela da wheeler bike team dizia que aquilo de que precisava não era de um ciclómetro, era de um medidor de FC e de um cronómetro, e conselhos de uma campeã nacional são sempre para ser tidos em conta. Para além disso, em cada queda mais a sério era um ciclómetro que se partia, outros estragavam-se, outros perderam-se... e o meu ciclómetro foi perdendo o seu encanto, até que uma vez em que se partiu ou se estragou, nunca mais foi substituído na minha Nishiki. Ainda voltei a ter um na minha Wheeler da altura que andava menos de bicicleta, mas quando a coisa se voltou outra vez para as bikes a sério, saiu. Juntamente com os bar-ends :)

... don't grow up. It's a trap!!

 

 Durante o tempo dos DHs em Sintra, nem valia a pena equacionar ter um. Como o Covas dizia, e bem, aquilo custava  10€ por descida só em material. Era escusado passar a custar 20€. E foi só na altura em que fazíamos cada vez menos descidas juntos e cada vez mais me virava para o Enduro e para voltar a andar sozinho, que o ”ciclómetro” regressou, com a Pitch. Mas na verdade nem era um ciclómetro, era apenas um telefone que se transformava em leitor de GPS de bolso, com mapas de mato carregados, com que me divertia a encontrar, sozinho, montes de spots novos. Os principais foram em Sintra e na zona da Ericeira, mas cheguei a ir andar para Montejunto, Torres Vedras, Caldas, etc, apenas munido  com um track GPS.

good times printed this

 

Daí a ter uma aplicação que guardasse os meus próprios tracks GPS foi um pulinho. Aquilo vai nas costas, e não há o tal problema de passar as voltas a olhar para um ecrã. E assim, quase sem querer, voltei a ter um “ciclómetro” e passei a ter um diário de bordo dos meus rides. E outro dia, quando cheguei a casa e fui desligar a gravação da volta, uma mensagem de parabéns da aplicação... tinha acabado de completar 1000 rides! Mil!!! Uns deles foram melhores, outros piores mas sempre bons, uns só para ir esticar as pernas, outros para ir esgotar energias e fazer umas descidas malucas, uns pelos trilhos de sempre só para ir dar uma volta, outros, como o do Passportes, que também lá está gravado, absolutamente épicos.

 Take a moment to celebrate

 

E agora, que cada vez mais há um histórico gravado, fico ainda mais fan do meu “sports-tracker”. É giro guardar a vida de rides em formato GPS, e chegar ao fim do ano e saber quantos kms fiz ou quantas horas andei, ou qual foi o passeio mais longo, ou o mês em que andei mais, ou isto, ou outra coisa qualquer. Porque aquilo já não é um ciclómetro.  Já não é uma coisa que conta quantas voltas dá a roda da frente, ligada por um fio a um display LCD com interface manhoso, monocromático, com 2 polegadas no máximo, e que só tem piada se fores a olhar para ele enquanto estás a andar. Aquilo é uma máquina poderosíssima, que vai a gravar tudo, da altimetria, às condições climatéricas desse dia, enquanto está ligada a pelo menos quatro satélites que estão algures no espaço. 

 

Captain's log, day 1002: as escadas do Tomac no Jamor

 

Agora... é fazer mais 1000!


quinta-feira, 5 de maio de 2022

Twenty-six (and GAS) ain’t dead

 

Passados mais de 3 anos desde o último post aqui na GAS, estava na altura de fazer uma prova de vida. Até porque, boa parte destes últimos 3 anos foram para todos um balanceamento difícil entre o anormal e o fim do mundo, e o termo "prova de vida" não é nada desadequado. E este post já esteve para sair muitas vezes, mas parece que nunca havia a altura certa. A questão é que, de tragédia em tragédia e de vaga em vaga, nunca há a altura certa.

 

Seasons change and mad things

 don't re-arrange...



Em primeiro, por ordem cronológica, sobrevivi à paternidade. E agora já percebo porque é que o “directors cut” de umas gravações em Belas  que o Rui nos prometeu que ia fazer em 2008 ou 2009 continua a não aparecer. Isto de ser pai é uma ocupação a tempo inteiro para sempre. E como gostei tanto de ter tido a minha vida alvoraçada para sempre, achei que, “agora que já me desgracei pode vir mais um”. E vem. Mas é mais uma.

 

next gen 

 

Em segundo, tenho sobrevivido à pandemia. Eu sei que “pandemia” já é um tema “de-mode”, bem sei que já ninguém quer saber, e que bom bom era esquecer isso, mas a verdade, é que ainda não acabou. Ninguém se quer lembrar do primeiro confinamento, o unico que foi digno de guião para filme. Esse foi o único que me meteu a fazer rolos... Mas confesso que houve alguns momentos de rara beleza durante a pandemia... as ruas vazias, os céus sem aviões e o mato... com bastantes mais pessoas.

 

Rolos... nunca foram bom sinal... 

 

E agora, que nos preparávamos para celebrar, lá teremos de tentar sobreviver a braços com uma guerra “que já não é num sitio qualquer”, é aqui ao lado. Há uns anos que o mundo não tem ido para melhor. Umas guerras, uma crise, uma pandemia, outra crise, uma guerra... As bikes estão fantásticas, mas o resto...

 

survival kit 

 

Mas, quem sobreviveu heroicamente a estes anos, e até está agora bem mais nova que há 3 anos atrás é a Pitch. A minha querida Pitch, companheira de muitas aventuras, estava relegada para “2ª bike” há muito tempo. E era uma “2ª bike” que estava mais perto de já não ser realmente ciclável e ser só mais uma coxa como aquela que acabou nos rolos. Mas levou um eixo, levou uns rolamentos, uns pozinhos e uma transmissão 1x11 como mandam as regras em 2022. E agora  temos dado umas voltas valentes pelos trilhos da Ericeira que ela já conhece de cor. E sabe sempre bem voltar às rodas 26...