Cuidado rapazes, porque ultimamente, acerto nas previsões todas. E a de hoje, é mais uma "fracturante".
O
enduro já está aí com força competitiva e a agitar a indústria das bicicletas. E
assim vai continuar,
porque a indústria decidiu que os enduristas são os seus test dummies preferidos para a
panóplia de coisas novas que vai inventando… seja o tamanho das rodas, seja isto ou aquilo "ajustável", capacetes com abordagens completamente diferentes das tradicionais, sejam
formatos de competição esquisitos inspirados no rallys, sejam selins que sobem e
descem… seja lá o que for, parece que tudo assenta aos enduristas. E como os enduristas têm
um andamento multifacetado e são os únicos que conseguem testar todas as
condições possíveis numa voltinha de 10kms, são as vitimas preferidas
do departamento de engenharia das marcas.
e se em vez de termo-nucleares tivesse feito bikes?
E os
engenheiros têm vindo a
introduzir mais um conceito que vai abanar tudo outra vez, as bikes de super
enduro. E o super enduro, para além de ser um novo enduro, é também o
novo freeride. Porque na verdade, o freeride já tinha deixado de o ser, primeiro com o Big Mountain (ou extreme freeride como alguns chamavam) e depois com a introdução do slopestyle, que não é mais do que reflexo
competitivo daquilo que há uns anos atrás
chamávamos de “freeride north shore”, outra sub-modalidade do freeride.
longe vão os tempos dos "low speed skills"
Com tanto nome e etiqueta não é fácil, mas se passarmos este problema
para números talvez o consigamos entender. Até há pouco tempo a fasquia
das 6
polegadas de curso traseiro era uma característica que abundava entre as
bikes de All Mountain. Só que o All Mountain era um vazio competitivo, e mais que uma modalidade, era um conceito. E o conceito era ir a
todo o lado com a mesma bike. Mas
entretanto surgiu a vertente competitiva, o formato que chamamos de enduro, um formato de prova que não lembraria a nenhum ciclista, absolutamente inspirado nos rallys, e
esse privilegia exclusivamente as descidas. Ora os atletas cedo perceberam
que mais valia suar um bocado mais nos corta-fogos que dão acesso
ao gate da especial seguinte e depois dispor de uma verdadeira máquina
de descida, do que ter uma bike que sobe
bem quando ninguém está a contar o tempo e que depois se borra toda nas trialeiras da
especiais. E começamos a ver os 150mm a subirem para 160, 165, por aí fora até às 7 polegadas, que eram o "número" das
bikes de freeride. E de repente, os engenheiros
olham para o catálogo de 2013, reparam que têm duas bikes com o mesmo curso, com o mesmo ângulo de direcção,
e cuja única diferença é o peso e a "blindagem". E os engenheiros percebem rapidamente que aquilo, assim, vai dar merda. Vão de mansinho falar com o departamento comercial lá da fábrica, que fica furioso, chama-lhes atrasados mentais e pergunta o que é que agora vai fazer
com duas bikes iguais. Os engenheiros, que são gajos cheios de soluções para problemas que eles próprios arranjam, sugerem que se deite fora o "panzer" de freeride, porque já
ninguém se lembra do Richie Schley a fazer skinnys de 1km, nem do Bender a matar-se encosta abaixo e porque no evento máximo do freeride mundial, o Red Bull Rampage, ninguém usa bikes de freeride. E a alguns marketeers faz-se luz, veem a oportunidade de recomeçar a vender o segmento dos 180mm que estava em declínio há uns anos, e começamos a ver por aí muitos catálogos em que já não há bikes de freeride, o que há é bikes de super-enduro, gravity bikes, allrounders, "park bikes" e chavões do género, que no fundo apontam todos para os mesmos bichos de 180mm e 13kg capazes de tudo e mais alguma coisa.
Vamos lá espremer mais 10 milimetros disto...
Mas e a nós,
onde é que isto nos deixa? Bem, a prazo vai deixar-nos sem bikes "só" de
freeride, mas mete-nos nas mãos, máquinas altamente pedaláveis, que
podes levar a qualquer
bike park sem a preocupação de levar um saco onde colocar as peças que ficam pelo caminho. Adicionalmente, coloca o
enduro definitivamente, como uma disciplina
de gravidade, e fica claro que o que conta, é a descer. E pelo meio, ainda cria a dúvida ao pessoal do downhill, que perante um traçado sinuoso e de dificuldade técnica um pouco mais baixa, vai começar a olhar para a bike de super-enduro que por acaso também está na carrinha, e se vai por a pensar se não será que aquela bike, mais leve, com mais resposta e mais ágil, não será uma melhor opção para aquela pista. E
isto pode abrir o precedente de considerar o enduro uma espécie de
“downhill com bikes de coroa simples” ou “downhill sem transportes", o que é muito redutor e demasiadamente longe do conceito do All-Mountain que esteve na origem do enduro enquanto vertente competitiva. E como os engenheiros continuam cheios de ideias, começamos a ouvir uns sussuros a perguntar… "será que o oito vai ser o novo seis?"
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