Durante muitos anos, muitos mais do que aqueles que deveriam
ter sido, o último fim de semana de Outubro e a inevitável mudança para a hora de inverno traziam consigo
o fim da possibilidade de andar de bicicleta diariamente. Não é que durante a
hora de verão o fizesse, pelo menos diariamente, mas durante aqueles 5 meses,
já sabia que ia sair de casa ainda de noite e ia chegar a casa já de noite. Cheguei
a comprar luzes, mas não só é difícil fazer offroad às escuras, como quebrar a
inércia depois de um dia de trabalho e de guisados corporativos era muito mais
difícil do que andar logo de manhã. Há quase 20 anos que tinha decidido vender
o meu tempo a terceiros, e aquilo que me permitia ter uma boa bicicleta, era a
mesma coisa que me impedia de desfrutar dela.
Estou pela primeira vez desde os tempos de adolescente com tempo para andar de bicicleta quase diariamente e tem sido absolutamente fantástico. Durante anos disse que adorava andar de bicicleta no Outono, mas na verdade fazia-o muito pouco, na melhor das hipóteses duas vezes por semana. E enquanto todo o mundo ciclista do hemisfério norte está “fechado para obras” pelo inverno, nós, os tais do sul que gastam o dinheiro em “copos e mulheres”, continuamos com trilhos transitáveis e temperaturas que no máximo, pedem um casaquinho por cima do jersey.
Por isso, todas estas voltas de bike mais recentes têm tido
um sabor a conquista e têm sido ainda mais libertadoras. Olhar para o relógio e
pensar que “há um mês, a esta hora, já estavas a levar com shit chat corporativo”,
enquanto a única coisa que se ouve são uns pássaros e os pneus a rolar sobre a
terra, tem tido uma magia inexplicável. É que aquilo que eu já fazia com tanto
gosto, para além dos atributos de que tantas vezes já aqui se falou, ganhou
ainda mais um: ser uma actividade que faço no período em que durante tantos anos vi os dias a passar pelas janelas do escritório.
O novo significado de "bad day at the office"
O novo significado de "bad day at the office"
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