sexta-feira, 23 de abril de 2010

lisboa-fatima? feito!

Depois de vários adiamentos por causa da meteorologia foi no último fim-de-semana que se realizou este raid, para uns foi mais uma, para outros uma estreia absoluta (eu incluído), no entanto julgo que para todos foi no mínimo memorável.

Sexta-feira quando me levantei e vi o que chovia, pensei que mais uma vez íamos adiar a “voltinha”, pois chovia torrencialmente, e as previsões apontavam para trovoadas no centro do país, puro engano! Não havia desistências bem pelo contrário ainda estavam mais contentes, assim era mais desafiante! 1º pensamento;

- Tou tramado, vou com gente doida, e nem sequer sou católico!

7:30 da manhã de sábado e já estava, como combinado, na rotunda das bolas em Massamá para ir ter com os outros, foi carregar as bikes e próxima paragem torre Vasco da Gama, que ia começar a peregrinação a Fátima! Assim que chegámos, encontramos o último peregrino, por sinal o mais batido nestas andanças como atestam as 4 viagens a Fátima que o bicho tem no seu invejável curiculum, entre muitas outras, e bastante mais exigentes! Foto da praxe para marcar o inicio e lá arrancámos nós até parecíamos domingueiros a andar no paredão da parque das nações, o que nos denunciava eram as mochilas que todos nos levávamos ás costas, demasiado grandes e pesadas para uma voltinha no paredão! Alguns minutos mais tarde á entrada de Sacavém em plena margem do grande Trancão chamam-me a atenção para pequeno marco de sinalização que se encontrava á entrada de uma estrada de terra batida, era o primeiro marco a indicar que o caminho dos peregrino para Fátima tinha inicio ali, naquele preciso local! Apenas aí soube que existe realmente um caminho perfeitamente delineado e marcado por esse Portugal até á terra dos pastorinhos, e que seria por esse caminho que a nossa viagem ia decorrer, ou seja íamos mesmo em peregrinação ate Fátima!

Nesta altura sinais de chuva só mesmo na nossa cabeça e no piso, e esses notavam-se especialmente nas estradas de terra batida! Foi por estas alturas que aconteceu um dos episódios mais marcantes da viagem, íamos nós a percorrer o Trancão quando no meio dum autêntico lago de lama vemos uma carrinha completamente atascada! Como é óbvio paramos para ajudar o “chefe”, e em boa hora o fizemos, caso contrario ele não saia dali nos próximos tempos, lá fomos nós empurrar a carrinha no sentido em q ela estava ate que o chefe nos diz,

- Não é para esse lado que eu quero ir, é para o outro!

- Como?? atao se você que ir para ali pq é que esta virado para o outro lado?

- Foi da lama!

Empurrar a carrinha já não era nada fácil quanto mais fazer uma inversão de marcha em pleno lamaçal, quando demos por ela, tava a carrinha mesmo entalada, nem para a frente nem para trás, nós todos cagados de lama e o “chefe” com medo de sujar as calças de lama! Sorte das sortes, no preciso momento em que começamos a olhar uns para os outros e a encolher os ombros aparece um jipão todo artilhado para o TT, e melhor ainda disponível para ajudar, foi a sorte do “chefe”! Lá pusemos o guincho na Vanette, e só com algum esforço é que a carrinha saiu do meio daquele pântano! O homem estava todo contente da vida e deu a cada uma das equipas 20€! Tudo fica bem quando acaba bem! Perdemos cerca de 45 minutos com o “chefe”, mas ganhámos uma história para mais tarde relembrar, e 20€ para as bifanas do almoço, a cerca de 50\60 km dali!

Tendo em conta o tempo perdido acharam por bem irmos num ritmo mais rápido pois tínhamos de compensar aqueles 45 minutos. Ate chegar a Alverca foi talvez, em termos de condições do terreno, o pior da viagem pois a lama era mesmo muita, e a roda traseira derrapava e escorregava que era uma coisa maluca. A esta altura já me questionava, se os 1ºs 20km são assim nem quero imaginar os restantes 85 ate chegar á cama! Puro engano! Não fosse o ritmo elevado, que oscilava entre os 25km\h e os 35km\h e era trankilo! Boas estradas, bom tempo, e claro, muito boa onda, eram a nota dominante da peregrinação!

As localidades iam ficando para trás a um ritmo alucinante e foi mais ou menos assim que chegámos á Valada, a 20 km de Santarém, para o prometido repasto, ainda por cima pago com o dinheiro do “grande chefe”! Tudo corrido a bifanas só variava o Isostar, para uns Coca-Cola, para outros água, e só para alguns copos de vinho!? E não é que eram estes do vinho que andavam e impunham ritmos loucos durante todo o percurso!?? Sempre ouvi dizer que o vinho fazia bem e dava saúde, tive a prova!

Devoradas as bifanas era hora de nos fazermos á estrada, que ainda falta um “bocadinho”, assim que nos montámos nas bikes para arrancar, as poucas gotas de chuva que começaram a cair durante o almoço como que por encomenda acabaram, mais um bom prenuncio! Antes de Santarém apenas realce para o único problema mecânico que aconteceu durante a viagem, um simples furo! Apenas um furo durante toda a viagem, nada mau! Claro que se tomaram algumas precauções para que fosse só isso a registar na ficha mecânica, algumas paragens para lavar as meninas e carregar a corrente com óleo, pois a lama tinha sido muita e ao menor sinal de chiadeira –“mete óleo” !!(na corrente claro)

Já me tinham avisado que a dureza só começava com a chegada a Santarém, e era verdade! Mesmo antes de chegar á cidade em si levámos logo com uma p… duma rampa, meu deus, nunca mais acabava, ainda por cima com uma inclinação bem acentuada! Da cidade de Santarém só me lembro mesmo das rotundas a alta velocidade das obras e pouco mais, e como tudo o sobe tem que descer, a saída da terra dos escalabitanos foi feita a alta velocidade, mesmo alta, acho eu dei cerca de 61km\h numa destas descidas, foi a vingança da subida inicial!

À saída de Santarém, tempo para uma ultima paragem de reabastecimento, mais um marco com a indicação do caminho dos peregrinos, e já só faltavam cerca de 20km até ao sito onde íamos pernoitar! Pensamento do Jay, 20km com esta pedalada uma horinha e tá feito! ERRADO! Pois bem foi a partir deste momento que começaram as tormentas, o plano deixou de existir, e alcatrão nem vê-lo, nem parecido! Afinal bem me tinham avisado que a viagem só começava a sério depois de Santarém e era mesmo assim! Os últimos km foram de um verdadeiro suplicio para mim, a juntar ao já tremendo cansado físico, veio a quebra psicológica, e se o percurso não era fácil, pior ficou! Quando metes na cabeça que já falta pouco, tás a contar km a km para o fim, e depois as tuas contas são trocadas, vais te abaixo nas canetas.

Após a paragem foram me dizendo já só faltam uma ou duas subidas, é chegar ao moinho e já lá estás! Ok! Fiz a gestão do esforço até ao moinho, e que subida a do moinho, pela 1ª vez os temerários levaram as bikes á mão, quando lá chegámos a cima, paragem para as fotos do costume mais uma barrinha energética e lá vamos nós que é já ali! Já sem forças comecei a descer quando chegamos ao fim da descida olho para cima e vejo outra rampa, e pergunto:

- Então não era aquela a ultima subida?

- Nã, esta é que é mesmo a última, que a dormida e o jantar são mesmo já ali!

Ok, já sem posição no selim lá subi! Chegados ao topo da rampa um pequeno declive e mais uma descida ao contrário. Pergunta da ordem;

- Então c**** não era a última?

- Não. Ainda faltam mais uma ou duas e aí é que chegamos!

Completamente destruído fisicamente só com muito esforço psicológico e com as poucas reservas de energia que me restavam é que fiz as tais duas ou três subidas em plano muito inclinado! Quando os vi a comemorar a chegada ao destino fiquei mesmo muito aliviado pois tinha conseguido chegar ao destino sem me ir completamente abaixo nas canetas, mas realmente estava esgotado! Olhei em volta a ver se encontrava o motivo de tanto regozijo da parte deles e inocentemente perguntei:

- Olha lá onde é que é isto que eu não consigo ver o sítio?

- É já ali é só descer isto é tamos lá, esta foi a ultima subida!

Quando acabámos de fazer a descida, continuei sem ver o sitio, e perguntei por ele outra vez, ao que me disseram é só subir isto, e tas lá! Não aguentei, e mandei o gajo para o cestinho das antigas naus dos navegadores!! Só lhe dizia voltas me a dizer que esta é ultima e furo te os pneus! Durante toda a viagem foi o momento em que mais cansado me senti. Felizmente que era mesmo a ultima subida antes da dormida! A dormida diga-se foi no centro de ciência viva do Alviela! Cinco estrelas, diga se de passagem, não só pelo preço (8€ com cama feita, ou 5€ sem direito a cobertores), mas também pelo excelente jantar que nos serviram, desde as entradas regionais, ate a divinal mousse de chocolate final! Após o jantar seguiu-se o habitual rescaldo da jornada, com muita conversa sobre bikes e afins, tudo regado a moscatel para uns e a marlboros para outros! Claro que o convívio com os nativos foi um dos pontos altos da noite, sobretudo com o bem disposto Eddy, o seu nome artístico! Que só saiu da playboy porque quis!

Como é normal nestas ocasiões os momentos que antecederam a dormida foram só rir com tanta parvoíce acumulada, sempre ao som dos trovões que se faziam ouvir e cheirar naquele quarto!

Domingo, 8 da matina e está a levantar pois a ultima etapa desta viagem sendo mais curta que a 1ª era bastante mais difícil, era do género dos últimos 20 km do dia anterior, mas em versão 60km! Como estava tudo fechado foi mesmo sem pequeno-almoço que nos pusemos á estrada. Estrada qual estrada? De barriga vazia com o rabo sem se puder sentar no selim com dores, eis que aparece uma pequena subida que tem de ser feita á mão, só para sair do centro! E foi assim que começou o 2º dia, com dores, com fome (barras não são comida da gente), com cansaço, com frio e com subidas! Tomámos o pequeno-almoço na aldeia de Monsanto, no meio da serra, e ta a arrancar outra vez, que temos um destino e um comboio para apanhar por volta das 14.30! No meio da serra começo a ver um sitio que não me era estranho, tínhamos chegado à serra de Minde, local onde me estriei em provas de XC, pois bem a dureza não tinha passado e aquilo que já não me lembrava muito bem pude voltar a confirmar, aquilo é mesmo alto e difícil, a única diferença é que desta vez não fomos pelos trilhos mas para facilitar fomos por estrada! Foram uns quantos km a subir bem devagar, até que chego a um ponto da subida e o Hugo me chama a atenção para a velocidade a que íamos a subir, 18km\h! A subir, e sem grande esforço, ele diz que naquela zona é normal subir aquela velocidade, pois meu amigo deixa que te diga que para mim não é nada normal subir aquelas encostas a quase 20km\h! Chegados ao topo da serra foi tirar a foto da praxe e preparar a descida que era bem longa e perigosa! Confirmo-vos que realmente é bem longa e íngreme esta descida, deu para tirar a barriga das misérias e acho que bati o meu recorde pessoal de velocidade em cima duma bicicleta, dei 73,41km por hora!!! Só possível porque não nos cruzamos com qualquer carro na descida e as estradas estarem em boas condições, fiz a ultima curva a 50km\h e parece que ia parado, de loucos aquela descida, realmente perigosa mas apenas pela velocidade que se atinge, um espeta ali e nem quero imaginar as consequências!

Ate Fátima foi sempre a andar bem sem grandes paragens, excepção feita para uma que aconteceu em “vale dos coelhos”? Continuo sem saber o nome da terra mesmo depois de ter perguntado a três pessoas diferentes. Nesta grande metrópole do nosso país estava um género de feira com 3 vendedores diferentes, e uma banca de frangos assados que segundo eles era para dar apoio aos peregrinos que por ali tinham obrigatoriamente de passar! Vontade de por ali ficar e almoçar não nos faltou, tal não era a receptividade e hospitalidade com que nos receberam, desde sandes de fígado, ate espetadas grelhadas, o belo do franguinho, passando na entremeada e acabando na febra, tudo era bom e cheirava maravilhosamente bem! E o vinho jovens? Do melhor que tenho bebido recentemente, parecia mesmo o néctar dos deuses! Claro que nada daquilo foi oferta, á excepção de dois copos de vinho, o meu e o do outro João, Velho para os amigos! Depois de uma conversa entre nós chegámos á conclusão que era melhor arrancar sem almoçar pois o tempo urge e o comboio não espera por nós, foto de grupo e vamos embora! Ate chegar a Fátima deu tempo ainda para, como é habito, perder mais uns óculos e cruzarmo-nos com mais peregrinos, eles a pé.

Só acreditei que tinha chegado quando cruzei a placa que dizia FÁTIMA, e tinha chegado mesmo! Após a chegada sentes uma enorme euforia contida pelo simples facto de teres chegado, que é impossível de explicar e verbalizar! Parabenizamo-nos a todos e fomos ao santuário, para mim outra estreia, nunca lá tinha ido, não tinha mesmo a noção do gigantismo daquele sitio, chegámos ainda se rezava a missa dominical! Tempo para telefonar aos entes queridos e partilhar a sensação da chegada ao destino. Tempo ainda para os crentes irem acender uma velinha e eu estrategicamente fiquei cá em cima a guardar a bikes. Engraçado foi ver a cara de dezenas de pessoas todas vestidas a preceito para o acto solene de domingo e nós completamente cagados de lama e equipamentos á btt. Passados 10 minutos da chegada ao santuário começou a chover! Era tempo de ir á procura dum café qualquer para ir comer qualquer coisa e arrancar para a estação da CP!

Quando nos dizem a estação de comboios de Celorico da Beira, no mínimo estas á espera que a estação de comboios seja em Celorico da Beira, correcto? Claro, excepto se tiveres a falar da estação de comboios de Fátima, que em vez de ser em Fátima fica a 20 km de Fátima, faz sentido? Não, especialmente se já tiveres cerca de 130km de bicicleta em cima. Não achas piada nenhuma á situação! Como já ia sendo hábito assim que nos começámos a equipar para o ultimo troço de viagem a chuva pára e o tempo abre para um sol radioso. Lá vamos nós todos contentes, e como o tempo já não era muito foi decidido que aquele troço tinha de ser feito a puxar para não corrermos riscos de perder o kimboio, e se aqueles meninos dizem que vão puxar, acreditem eles vão puxar mesmo!!! Como eu ia com o homem do GPS, por muito depressa que os da frente fossem em determinado sitio tinham sempre que esperar pois ali já não havia marcos com a indicação do caminho a seguir, e ninguém se queria enganar e ir para o porto ou qq coisa parecida. E assim fomos ate quase á estação de comboios, porque antes de chegarmos lá somos presenteados com a maior, mais comprida, e talvez mais difícil subida do percurso, mesmo só para complicar o que já não estava nada fácil, sobretudo com o sol a queimar, a fazer um calor muito pouco agradável e nada adequado aquele esforço físico! Terminada aquela provação tive uma visão deslumbrante, os carris dos comboios! Sabia que estava a chegar ao fim, não faltou muito para lá chegar, mais uma subidita de 200m e lá estava ela, sedutora, linda como nunca, a estação de comboios de Fátima, que não fica em Fátima mas é de Fátima. Agora sim terminara a viagem por meio de uma bicicleta, era tempo de me sentar num banco realmente confortável, e locomover-me sem qualquer dispêndio de energia! Engraçado (ou não) foi sabermos que afinal o comboio só chegava uma hora e meia depois! Tempo de nos desequiparmos e irmos atestar o depósito ao café da estação. Tinha chegado ao fim a viagem a Fátima de bicicleta.

Em jeito de conclusão, garanto-vos, que apesar de todo o desgaste físico, de todas as dificuldades que senti, vou voltar a fazer mais viagens deste género e aconselho todos vós que leram este longo post a fazerem-no, desde que se preparem convenientemente para o fazerem, mais psicologicamente do que em termos físicos, pois se a mente estiver preparada o corpinho vai atrás!



ficam aí algumas das fotos tiradas





o inicio da peregrinação
vai uma maozinha?


tava na altura do chefe chamar a assistência em viagem!


tudo bem quando acaba bem, e nós com mais 20€!


bifanas algures no ribatejo...

no alto da subida do moinho, era a ultima do dia, diziam eles...


break-first in monsanto

alto da serra de minde, prestes a bater um record pessoal.

deviamos era ter ficado para o almoço

o Casimiro na véspera da partida tinha tido uma gastroentrite! sofreu ele e nós com os seus trovões!


nuno "the rocket" foi ele que impôs sempre o ritmo durante os quase 200km's, e que ritmo


o grande joão, no alto dos seus 45 primaveras com muito para dar e disputar, salvé velho!


eu mesmo a alongar apos a chegada ao santuario. mesmo com dores nota-se a felicidade


o repouso dos guerreiros á espera do cavalo de ferro!



abrçs
jay

5 comentários:

Anónimo disse...

Espectacular post meu velho :) Já vi que o esforço foi mais que muito. Agora falta fazeres o caminho de santiago, eheheh

abraços,
sub

jay disse...

pois ja tinha pensado nisso, o velho ja o fez!mas sao 7 dias assim! nem consigo imaginar

TC disse...

Ganda Jay!! Assim é que é!!
Dou-te os meus parabéns, quer pela viagem épica, quer pelo belíssimo post que escrevestes.
Grande abraço e bons ventos...

T

TC disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
TC disse...

ps: essa merda num dia de vento e com um kite amarrado ao guiador chegava-se lá num instantinho.