Se
no passado já tinha dado provas do meu sentido de orientação e já me
auto apelidava de “pombo correio”, agora que aliei um GPS a estas
qualidades transformei-me
num verdadeiro “drone”. E apesar de não andar a disparar misseis contra
os talibãs, este Sábado assumi uma missão na zona de Sintra – descobrir o
famigerado trilho das pontes. Carreguei um track GPS que passava por lá
e que começava na mula e pus-me a caminho.
A serra ainda apresenta fortes indícios da “guerra” que lá houve no fim
de semana do “alerta vermelho” por causa do vento e há montes de
árvores ainda no chão. Uma constante neste sábado era o barulho de
motosserras que ecoava um pouco por todo o lado. Depois
de vários quilómetros a subir e depois da transposição, por vezes fácil,
outras vezes muito difícil, de árvores que tinham caído, cheguei à
curva onde começa o trilho para Colares. Mas, a apenas uns 10 metros
desse local fiquei sem tracção, pois o cubo traseiro
deixou de “agarrar” a cassete quando se pedala.
A
Pitch já andava a acusar desgaste no cubo traseiro há uns tempos. Já o
tinha sentido, já tinha sido alertado pelo mecânico, mas como sempre,
nas bikes, há que explorar
o material até ao ultimo momento. O material é caro, é consumível, por
isso há que usá-lo até ao seu ultimo sopro de vida. Foi uma pena ter
rebentado precisamente ali, o que me impediu de ir finalmente visitar o
trilho das pontes. Estava a uns quilómetros valentes
do carro, mas tinha toneladas de energia potencial para gastar, pois
estava mesmo num dos pontos mais altos da serra. O regresso ia ser uma
tentativa de optimizar, em descida, o esforço das pedaladas que me
levaram até ali. Pois bem, nessa curva, para a esquerda
tinha o trilho de colares, mas que não me servia para chegar ao meu
destino. À direita tinha o kamikas e não me servia para chegar vivo ao
meu destino. Mas uns metros mais à frente vi uns putos, a entrarem num
single track, e apressei-me a chegar ao pé deles.
A minha primeira pergunta reflectia bem a minha preocupação: “isso por
aí é sempre a descer?” e “dá para chegar à barragem da mula?”. Como
obtive um sim a ambas as questões, apressei-me a explicar a minha
situação de estar sem corrente e que por isso, me ia
juntar ao grupo. Mas o momento que deu origem ao titulo do post estava
por vir. Talvez por estar vestido de lycra, talvez por ter provavelmente
o dobro da idade média deste grupo de putos, talvez pelo excesso de
peso ou talvez pelo ar desanimado de quem já
viu a sua voltinha estragada e se prepara para ir por a bike ao estaleiro, um deles diz “mas olhe que isto é
complicado, o melhor é o senhor vir atrás de mim”. Gostei do “senhor”. Eles não sabiam, mas estavam com um
veterano, provavelmente com mais horas de bike do que eles todos juntos.
Mas nestas coisas, é sempre melhor poupar palavras e explicar com
acções.
Começámos
a descida e poucos metros depois vejo um deles a fazer um OTB numa zona
relativamente fácil.Parámos, perguntámos se está tudo bem, e um deles
começa assim
a debitar uma série de indicações: "rabo para fora, pernas flectidas,
olhos lá à frente", etc. Até que o rapaz tinha boa noção dos
“fundamentals”, ao que eu ainda acrescentei “cotovelos levantados”. Tinha acabado de ganhar um bocadinho
de respeito do grupo. Continuámos a descer, mas eu estava sem corrente,
pelo que ia com alguma preocupação em não travar tanto para não
perder o “momentum” e tive de começar a fazer ultrapassagens, uma delas
por um salto. Confesso que uma parte da motivação
para o ter feito foi mesmo o facto de não querer perder o embalo, mas a
outra parte foi pura fanfarronice! E foi neste momento que o “senhor
velhinho, com lycras e excesso de peso” passou a ser “um veterano do
MTB, com equipamento técnico especializado e com
o SAG do amortecedor ajustado ao seu peso”, o que, na paragem para
reagrupamento seguinte, levou o rapaz que tinha dito para ir atrás dele a
reconhecer o seu erro na minha avaliação e a dizer, entre risos e
alguma surpresa, “afinal é melhor ir o senhor à frente”.
Chegámos ao fim do trilho que desemboca no cruzamento da fonte (ao pé da
estrada que vai para os trilhos da Malveira), despedi-me dos meus
“pupilos” e segui pela estrada até à entrada Norte da pedra amarela. Daí
, já conhecia o caminho. Depois de estonteantes
60kmh no estradão que serpenteia até à Mula, ainda consegui entrar em
mais uma pista, que segue transversal a essa estrada. Ainda deu tempo
para ir deixar a roda na 2cycling e confirmar os receios de que aquele
cubo ou já era ou está quase a ir!