segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

The vet

Se no passado já tinha dado provas do meu sentido de orientação e já me auto apelidava de “pombo correio”, agora que aliei um GPS a estas qualidades transformei-me num verdadeiro “drone”. E apesar de não andar a disparar misseis contra os talibãs, este Sábado assumi uma missão na zona de Sintra – descobrir o famigerado trilho das pontes. Carreguei um track GPS que passava por lá e que começava na mula e pus-me a caminho.  A serra ainda apresenta fortes indícios da “guerra” que lá houve no fim de semana do “alerta vermelho” por causa do vento e há montes de árvores ainda no chão. Uma constante neste sábado era o barulho de motosserras que ecoava um pouco por todo o lado. Depois de vários quilómetros a subir e depois da transposição, por vezes fácil, outras vezes muito difícil, de árvores que tinham caído, cheguei à curva onde começa o trilho para Colares. Mas, a apenas uns 10 metros desse local fiquei sem tracção, pois o cubo traseiro deixou de “agarrar” a cassete quando se pedala. 
 
 
 
A Pitch já andava a acusar desgaste no cubo traseiro há uns tempos. Já o tinha sentido, já tinha sido alertado pelo mecânico, mas como sempre, nas bikes, há que explorar o material até ao ultimo momento. O material é caro, é consumível, por isso há que usá-lo até ao seu ultimo sopro de vida. Foi uma pena ter rebentado precisamente ali, o que me impediu de ir finalmente visitar o trilho das pontes. Estava a uns quilómetros valentes do carro, mas tinha toneladas de energia potencial para gastar, pois estava mesmo num dos pontos mais altos da serra. O regresso ia ser uma tentativa de optimizar, em descida, o esforço das pedaladas que me levaram até ali. Pois bem, nessa curva, para a esquerda tinha o trilho de colares, mas que não me servia para chegar ao meu destino. À direita tinha o kamikas e não me servia para chegar vivo ao meu destino. Mas uns metros mais à frente vi uns putos, a entrarem num single track, e apressei-me a chegar ao pé deles. A minha primeira pergunta reflectia bem a minha preocupação: “isso por aí é sempre a descer?” e “dá para chegar à barragem da mula?”. Como obtive um sim a ambas as questões, apressei-me a explicar a minha situação de estar sem corrente e que por isso, me ia juntar ao grupo. Mas o momento que deu origem ao titulo do post estava por vir. Talvez por estar vestido de lycra, talvez por ter provavelmente o dobro da idade média deste grupo de putos, talvez pelo excesso de peso ou talvez pelo ar desanimado de quem já viu a sua voltinha estragada e se prepara para ir por a bike ao estaleiro, um deles diz “mas olhe que isto é complicado, o melhor é o senhor vir atrás de mim”. Gostei do “senhor”. Eles não sabiam, mas estavam com um veterano, provavelmente com mais horas de bike do que eles todos juntos. Mas nestas coisas, é sempre melhor poupar palavras e explicar com acções.
 
 
 
Começámos a descida e poucos metros depois vejo um deles a fazer um OTB numa zona relativamente fácil.Parámos, perguntámos se está tudo bem, e um deles começa assim a debitar uma série de indicações: "rabo para fora, pernas flectidas, olhos lá à frente", etc. Até que o rapaz tinha boa noção dos “fundamentals”, ao que eu ainda acrescentei “cotovelos levantados”. Tinha acabado de ganhar um bocadinho de respeito do grupo. Continuámos a descer, mas eu estava sem corrente, pelo que ia com alguma preocupação em não travar tanto para não perder o “momentum” e tive de começar a fazer ultrapassagens, uma delas por um salto. Confesso que uma parte da motivação para o ter feito foi mesmo o facto de não querer perder o embalo, mas a outra parte foi pura fanfarronice! E foi neste momento que o “senhor velhinho, com lycras e excesso de peso” passou a ser “um veterano do MTB, com equipamento técnico especializado e com o SAG do amortecedor ajustado ao seu peso”, o que, na paragem para reagrupamento seguinte, levou o rapaz que tinha dito para ir atrás dele a reconhecer o seu erro na minha avaliação e a dizer, entre risos e alguma surpresa, “afinal é melhor ir o senhor à frente”. Chegámos ao fim do trilho que desemboca no cruzamento da fonte (ao pé da estrada que vai para os trilhos da Malveira), despedi-me dos meus “pupilos” e segui pela estrada até à entrada Norte da pedra amarela. Daí , já conhecia o caminho. Depois de estonteantes 60kmh no estradão que serpenteia até à Mula, ainda consegui entrar em mais uma pista, que segue transversal a essa estrada. Ainda deu tempo para ir deixar a roda na 2cycling e confirmar os receios de que aquele cubo ou já era ou está quase a ir!

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