A semana passada foi um tanto ou quanto negra relativamente
ao ciclismo. As declarações do Armstrong ( ou strong arm, atendendo a que já se injectou mais vezes do que o mais
famoso carochito de Queluz, o Ramalho) caíram que nem uma bomba no mundo
ciclístico. A mim, só veio confirmar o que já se sabia há muitos anos – o ciclismo está carregadinho
de doping, e existe, até certo grau, algum encobrimento por parte da UCI.
Talvez seja por isso que a UCI e seus súbditos da FPC dizem “o ciclismo de
estrada é que é o ciclismo profissional”. Eu, pessoalmente, não sou um grande
activista do anti doping, porque o desporto de alta competição está carregado
dele e o que é doping ou não é sempre duvidável… proteínas ou cafeína são
doping? O meu próprio sangue é doping? Será a alimentação doping? Ou até a
raça? Sim, porque todos sabemos que nunca vai haver um etíope, magrinho e
subnutrido a ganhar corridas de 100m nem
um africano, cuja densidade óssea é maior que nos caucasianos, a ganhar 1000m
bruços. Ou até haverá doping nas senhoras, que por disfunção hormonal têm mais
bigode do que eu? Muito poderia ser dito sobre isto, mas o que me trás aqui, é
precisamente a postura antagonista a esta realidade, o “true roots” do MTB.
Este sábado, vi um documentário que há muito queria ver: “Klunkerz:
a film about mountain bikes” que se centra na origem da nossa amada actividade.
Podia ter escrito “o nosso amado desporto”, mas isto não é bem um desporto. O
Covas diria que é “um desporto com forte componente lúdica”, mas os hippies
californianos que começaram a levar as bikes para as montanhas diriam que é
“uma actividade lúdica com componente desportiva”. Estes hippies, não são uns
hippies quaisquer, estamos a falar de todas as personagens que estão no MTB
hall of fame: Charlie Kelly, Gary Fisher, Joe Breeze, Tom Ritchey, etc, que no
inicio dos anos 70 começaram a meter pneus grossos e guiadores oversize nas
bikes pasteleiras dos anos 50. Todos eles, ciclistas de estrada com mais ou
menos sucesso desportivo, depois do treino da manhã, juntavam-se com os amigos
para irem fazer umas descidas radicais em Marin County.
E a palavra de ordem para estes pioneiros era “fun”. Quando
perceberam quer a coisa era mais “fun” se tivessem um desviador atrás, puseram
um, Quando perceberam que os quadros em cromoly eram mais “fun”, pediram ao Joe
Breeze e Tom Ritchey que começassem a soldar umas coisas e é quando começa a
aparecer o formato em “diamante” que hoje reconhecemos como o standard do MTB.
Quando perceberam que estas bikes eram “fun enough” para permitir pedalar até
ao cimo do monte, fizeram-no. À medida que as bikes evoluíam e eram cada vez
mais “fun”, independentemente do sentido vertical em que se ia, convertiam-se muitos
riders a este novo conceito, e um dia, o Ritchey deu-lhes o nome pelo qual,
nós, a descendência directa destes hippies Californianos, as viríamos a conhecer – as Mountain Bikes.
O Ritchey? Mas a primeira mountain bike não foi a
Specialized Stumpjumper, perguntariam vocês? Ao que eu responderia, “não, não foi”.
E agora já sei o porquê do meu ódio à Specialized, que apesar de enraizado há
muitos anos, não tinha, na verdade, uma sustentação válida e assente em factos:
depois do Ritchey ter finalmente desenhado e soldado os primeiros quadros de
MTB, o Mike Sinyard (o boss da Specialized) comprou um. Imediatamente, o Gary Fisher
ficou preocupado com tal aquisição. Receio mais que fundado, pois poucos meses
depois estava no mercado uma réplica da mountain bike do Tom Ritchey, mas “made
in Taiwan” e chamada Specialized Stumpjumper. Depois de explicado o ódio intrínseco
que habita o coração de todo o mountain biker (mesmo que seja o envergonhado
dono de uma bike desta marca), faltava só revelar um pequeno detalhe que tudo expõe
sobre o MTB e sobre as suas intenções como desporto: o primeiro “prize Money”
que houve no mundo das bicicletas de montanha, que foi atribuído ao Joe Breeze,
vencedor da primeira corrida de DH cronometrada, a “repack”. Nada mais, nada
menos do que “a bag of smokables”. É verdade, o MTB até promove o uso de
doping, mas não é de landrolonas, testosteronas, curtizona ou efedrina. É que
no MTB, até o doping é recreativo!
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