quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Re-teasing



Confesso que há 3 meses atrás não esperava tão calorosa recepção ao teaser que aqui foi colocado. A ideia em si já tinha algum tempo. Digamos que assim que tomei conhecimento do Pass’portes  du Soleil fiquei fan do formato… é que misturar bikes, com os Alpes, com uma prova de formato “relaxado” nos melhores bike parks da Europa, com cerveja e com fondues de queijo e chocolate é uma daquelas mixes a que é impossível ficar indiferente. Mas foi neste verão que a coisa ganhou força, e muito sinceramente quando tomei a decisão de “esta é uma daquelas coisas que se tem de fazer uma vez na vida”, pensei que os meus amigos já não gostavam de andar de bike e que o PDS era uma daquelas coisas que ou me dispunha a fazer sozinho ou não fazia de todo. E foi esse o espirito com que saiu o teaser, em plena crença de que o apelo à concentração ia cair em saco roto, e que lá ia eu, desgraçadinho e sozinho para terras helvéticas.






Não podia estar mais enganado. Poucos dias depois da publicação, aparece-me o Carlos a dizer “epá, aquilo parece-me muita bem, conta comigo”. Fiquei contente, por um lado porque ainda havia pessoas a ler este blog, e por outro, porque tinha conseguido “vender” a ideia a alguém sem ser a mim próprio. Mas as surpresas continuaram e quando eu e o Carlos andávamos a ver preços de viagens de avião e de sacos para levar as bikes, o Telmo alistou-se na armada: “Alpes? Epá eu não tenho bicicleta para isso, senão até ia”. Prontamente o Carlos retorquiu “eu tenho duas bikes, que não seja por isso…”. E não será mesmo por isso, a mítica Sinttesi já tem amortecedor novo e está afinada para o cú do Telmo. Mas as surpresas continuavam, e alguns dias depois, o nosso Flying Tó, também já dava mostras de querer ir experimentar os shores do bike park de Châtel (ver o vídeo abaixo). Infelizmente, para este, os maiores impedimentos chamam-se International Monetary Fund e Pedro Passos Coelho. Os cortes a que estão sujeitos os funcionários do Estado (qual estado…?) podem tornar esta trip proibitiva ao proletariado. A ver vamos se temos este homem como “alfa” da alcateia de malucos que se prepara para ir arrefinfar umas cabras montesas nas montanhas suiças, ou se vai ter de ver a viagem pelos olhos de uma goPro.









Mas a história ainda não se fica por aqui. À medida que fomos vendo alguns vídeos de provas passadas e ao ver as vistas do percurso, o entusiasmo aumentava. E foi ao terminar de ver um destes vídeos que eu me lembrei de um episódio com o JP na Ericeira, em que estávamos de bike, debaixo de uma chuvada monumental e em que ele me diz “este desporto é mesmo espectacular, este contacto com os elementos é qualquer coisa…”. E ao lembrar-me disto disse para mim (e garanto-vos que as “palavras internas” foram mesmo estas): “foda-se, o JP tem MESMO de vir fazer isto comigo, isto é a cara dele”. E foi com este episódio sempre em mente que comecei a vender a ideia e depois de algumas mensagens em que me lembro de dizer que “se tirares 1,75€ por dia, até lá, pagas a viagem toda”, a coisa ganhou alguma força. Convém também dizer que, o facto de sermos os dois de 1979, de fazermos 35 anos em 2014 ( no caso do JP, vai mesmo fazer os 35 lá) e de ambos sentirmos que “é agora ou nunca” ajudou à decisão positiva, que foi posteriormente aprovada em reunião extraordinária de conselho familiar!






E este “re-teasing” sai hoje, por dois motivos distintos e coincidentes: por um lado, faltam precisamente 200 dias para o arranque desta bike trip, e por outro, acabei de confirmar reserva num chalet em Châtel, a 150metros das pistas. E ainda temos uma cama disponível (e um lugar em cama de casal que preferíamos não ocupar)!! Por isso, meus caros companheiros de viagem, mais do que “a coisa estar a tomar forma”, digo-vos que a coisa está completamente formada e está na hora de tomarem as devidas providências… é que temos os que estão em forma mas não têm bike, temos os que têm bike mas não estão em forma e temos os que nem têm uma coisa nem outra!

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

sintra 6/61 - never forget



Há já algumas semanas que tenho andado por Sintra durante os Sábados a matar as saudades das pistas emblemáticas ali da zona da encosta Sul. E em boa parte, aquilo que me tem motivado a estas incursões era ir conhecer o famoso trilho das pontes. Mas a coisa andava um bocado amaldiçoada. Na primeira tentativa tive a roda de trás que ficou pelo caminho. Na segunda tentativa, e já com uma roda nova, apesar de ter dado uma excelente volta, ali perto dos capuchos cometi o grande erro de não me orientar por mim mesmo e fui pedir indicações a uns bikers que lá estavam. Pintaram-me um cenário de tal modo negro que desisti de encontrar o tal trilho: “ui, isso está cheio de lama”, “ihh pa, as pontes estão todas partidas e não dá para ridar”. Bom, perante tais afirmações, resignei-me e desci para a mula por outro lado.


No fim de semana seguinte, e já sem a esperança de vir a disfrutar de tão badalado trilho fui novamente para Sintra. O objectivo do ride era de certo modo, físico, e desta vez, queria fazer duas descidas completas e obviamente e uma vez que agora se anda em autonomia, fazer duas subidas. É um bom treininho para os enduros que estão para vir. Lá deixei o carro na barragem e comecei a trepar. Já se sabe que eu trepo devagarinho, mas cheguei lá acima num instante e decidi descer pela malveira. Ora a primeira secção estava óptima, mas daí para baixo está a haver o maior abate de acácias que eu já vi a acontecer na serra. Os trilhos simplesmente não estavam lá, o que implicou fazer um bocado de “free ride” pelo meio dos troncos de acácias. Depois de ter ultrapassado este obstáculo, lá cheguei a uma zona mais limpa e foi seguir pelos antigos voadores.


Depois de composto o estomago com uma bananinha, fiz-me à estrada e comecei a acumular energia potencial. Foi subir até à pedra amarela, e já tinha galado a entrada para um trilho, que um pouco mais abaixo percebi que era o kamikas. Quando estava a baixar o selim, apareceram 2 DHs e isso devia ter-me servido de aviso para aquilo em que me estava a meter, mas não, bem pelo contrário, fui no máximo, um bom bocado atrás deles. Claro que a meio, os longos cursos e as protecções (e não esquecer, os skils) já os tinham colocado fora do meu alcance. Bem, mas a primeira parte não tinha sido nada má, e mandei-me para a segunda secção. Já estava a fazer saltos e tudo, mas de repente acabou-se a brincadeira, e aquilo que tinha sido um trilho acessível ligou-se ao kamikaze. Daí em diante foi um bocadinho à mão e a derrapar, outros bocadinhos só a derrapar e outros bocadinhos à mão e a lutar para não cair tal era a inclinação da coisa.








Apressei-me a sair desta aventura para o estradão e uns metros mais abaixo apareceu uma nova entrada para um single. “OK, porque não? Certamente que o pior que podia apanhar já passou…”. E fui andando por ali abaixo, sempre à espera que me aparecesse uma falésia intransponível, mas que tardou em aparecer. Passei um shore, passei outro shore, passei num mega shore que parecia que não tinha fim e comecei a achar que aquilo era shores a mais num trilho de baixa dificuldade. Só podia estar num sítio, no tal “trilho das pontes”. De facto, tal como tinha sido avisado, estava com bastante lama, mas nada de intransitável, e as pontes, apesar de uma ou outra madeira partida, estavam todas cicláveis. Com o entusiasmo da descoberta, comecei a largar travões e a dar pedal por ali fora. O trilho é bastante estreito e numa das zonas mais rápidas, o guiador deu um toque na vegetação do lado direito, perdi o controlo, não consegui corrigir e mandei aquele que até agora, foi o espeta mais aparatoso com a Pitch. Sem protecções, sem integral lá para o meio das acácias cheio de força. Ainda no chão e com a bike em cima, fiz o “check” a ver se estava tudo bem e estava. Com a Pitch também.  Foi um bom aviso… de que sem integral a parada sobe bastante e convem manter “os pes no chão”. Mas o dia estava ganho, finalmente tinha descoberto o trilho das pontes!!



segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Rampage



 Não há que enganar. É o maior evento de MTB do mundo e o local onde o nosso desporto dá maiores passos em direcção ao futuro. E esta edição de 2013 foi simplesmente... fantástica!


Dustin Schaad @ Red Bull Rampage 2013
(walked out from this crash on his own foot)


“Hurt or not, sometimes as a rider you need to rise up to the occasion and make it happen for the greater good of the sport.” Cameron Zink
 

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Belas on fire


Para aqueles amigos ambientalistas que acham que abrir trilhos destrói as matas, ponham os olhos no trilho dos fetos, que serviu de corta fogo no "incêndio anual que todos os anos ataca a mata de Belas", neste verão. Curioso como toda esta acção, com pelo menos um evento por ano, ocorre nas barbas de uma torre de vigia que está a menos de 500m deste local.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Teaser

Há já alguns anos que se realiza um evento de bicicletas no coração dos alpes, na região fronteiriça entre a França e a Suiça. Podíamos, por causa dos dorsais, ser levados a crer que se trata de uma corrida, mas numa corrida não há pessoal a meio a parar para ir beber uma cervejola e comer uns petiscos. Podia-se chamar de “festa alpina de mountain bikers”, mas com 80kms para fazer em 10h, ou passas a noite na montanha, não estou a ver motivos para grandes festas. Podia ser chamado de passeio, mas num passeio não costumas ver o Nico Vouilloz e a Anne Caroline Chausson a subir ao pódio no fim do dia. Podia-se chamar de “feira de mountain bikes”, mas os stands que estão montados ao longo da prova têm, em vez de bikes e componentes, todo o tipo de iguarias regionais... baguettes com queijos franceses e presunto, raclettes, salsichas alpinas, chocolate suiço, fondues e muita cerveja. Portanto, à falta de melhor definição, vamos chamar isto pelo nome: Pass’portes du Soleil.

 can i have a beer please?

O Pass’portes du Soleil é um evento realizado na maior rede de trilhos para bicicletas de montanha da Europa (650kms!!), uma zona situada entre a Suíça e a França chamada Portes du Soleil, que inclui alguns bike parks mais emblemáticos da europa: Les Gets e Morzine na França e Champéry e Morgins na Suiça . O traçado da prova, percorre num só dia 80kms no meio dos Alpes, atravessando por diversas vezes a fronteira. Para aqueles que neste momento estão a pensar que eu não sou gajo para estar tão entusiasmado com uma epopeia de 80kms em terreno fortemente acidentado, vou dar o detalhe mais importante, que já se adivinhava pelos nomes que eu disse que subiram ao pódio: trata-se de um evento de "gravity", e estes 80kms são feitos com a ajuda de 14(!) teleféricos e têm cerca de 6500m de desnível negativo acumulado!! Sim, leram bem bros!! Seis mil e quinhentos metros a descer. 

 this view takes all my words for another smart ass comment

Mas não se enganem, não é nenhum passeio. Há ciclistas de estrada profissionais que confessam que ao início subvalorizaram o esforço envolvido e depois sentiram dificuldades em terminar a prova. Mas isso são ciclistas de estrada. Nós, que temos alguma experiência em MTBs no geral e descidas em particular, sabemos bem que 80kms a descer, com 6500m para "gastar" não é uma coisa que se adivinhe fácil. Para além disso, ao passar o dia entre os 1000 e os 3000m de altitude, em esforço, é inevitável que o ar rarefeito da montanha acrescente alguma dificuldade à coisa. Há opções de 30kms e 45kms, mas o verdadeiro Pass’portes é de 80kms.


it's not for the faint of heart


E é por isso que este teaser chega quase um ano antes de se realizar o dito evento (27, 28 e 29 Junho do próximo ano). Para além da logística que está implicada numa deslocação a Les Gets, este é o tipo de coisa que exige alguma preparação física e portanto, se se quiser disfrutar realmente do ride, há que começar a encher e acumular kms.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Seven is the new six



Cuidado rapazes, porque ultimamente, acerto nas previsões todas. E a de hoje, é mais uma "fracturante".
O enduro já está aí com força competitiva e a agitar a indústria das bicicletas. E assim vai continuar, porque a indústria decidiu que os enduristas são os seus test dummies preferidos para a panóplia de coisas novas que vai inventando… seja o tamanho das rodas, seja isto ou aquilo "ajustável", capacetes com abordagens completamente diferentes das tradicionais, sejam formatos de competição esquisitos inspirados no rallys, sejam selins que sobem e descem… seja lá o que for, parece que tudo assenta aos enduristas. E como os enduristas têm um andamento multifacetado e são os únicos que conseguem testar todas as condições possíveis numa voltinha de 10kms, são as vitimas preferidas do departamento de engenharia das marcas.

e se em vez de termo-nucleares tivesse feito bikes?

E os engenheiros têm vindo a introduzir mais um conceito que vai abanar tudo outra vez, as bikes de super enduro. E o super enduro, para além de ser um novo enduro, é também o novo freeride. Porque na verdade, o freeride já tinha deixado de o ser, primeiro com o Big Mountain (ou extreme freeride como alguns chamavam) e depois com a introdução do slopestyle, que não é mais do que  reflexo competitivo daquilo que há uns anos atrás chamávamos de “freeride north shore”, outra sub-modalidade do freeride.

 longe vão os tempos dos "low speed skills"

Com tanto nome e etiqueta não é fácil, mas se passarmos este problema para números talvez o consigamos entender. Até há pouco tempo a fasquia das 6 polegadas de curso traseiro era uma característica que abundava entre as bikes de All Mountain. Só que o All Mountain era um vazio competitivo, e mais que uma modalidade, era um conceito. E o conceito era ir a todo o lado com a mesma bike. Mas entretanto surgiu a vertente competitiva, o formato que chamamos de enduro, um formato de prova que não lembraria a nenhum ciclista, absolutamente inspirado nos rallys, e esse privilegia exclusivamente as descidas. Ora os atletas cedo perceberam que mais valia suar um bocado mais nos corta-fogos que dão acesso ao gate da especial seguinte e depois dispor de uma verdadeira máquina de descida, do que ter uma bike que sobe bem quando ninguém está a contar o tempo e que depois se borra toda nas trialeiras da especiais. E começamos a ver os 150mm a subirem para 160, 165, por aí fora até às 7 polegadas, que eram o "número" das bikes de freeride. E de repente, os engenheiros olham para o catálogo de 2013, reparam que têm duas bikes com o mesmo curso, com o mesmo ângulo de direcção, e cuja única diferença é o peso e a "blindagem". E os engenheiros percebem rapidamente que aquilo, assim,  vai dar merda. Vão de mansinho falar com o departamento comercial lá da fábrica, que fica furioso, chama-lhes atrasados mentais e pergunta o que é que agora vai fazer com duas bikes iguais. Os engenheiros, que são gajos cheios de soluções para problemas que eles próprios arranjam, sugerem que se deite fora o "panzer" de freeride, porque já ninguém se lembra do Richie Schley a fazer skinnys de 1km, nem do Bender a matar-se  encosta abaixo e porque no evento máximo do freeride mundial, o Red Bull Rampage, ninguém usa bikes de freeride. E a alguns marketeers faz-se luz, veem a oportunidade de recomeçar a vender o segmento dos 180mm que estava em declínio há uns anos, e começamos a ver por aí muitos catálogos em que já não há bikes de freeride, o que há é bikes  de super-enduro, gravity bikes, allrounders, "park bikes" e chavões do género, que no fundo apontam todos para os mesmos bichos de 180mm e 13kg capazes de tudo e mais alguma coisa.

  
Vamos lá espremer mais 10 milimetros disto...

Mas e a nós, onde é que isto nos deixa? Bem, a prazo vai deixar-nos sem bikes "só" de freeride, mas mete-nos nas mãos, máquinas altamente pedaláveis, que podes levar a qualquer bike park sem a preocupação de levar um saco onde colocar as peças que ficam pelo caminho. Adicionalmente, coloca o enduro definitivamente, como uma disciplina de gravidade, e fica claro que o que conta, é a descer. E pelo meio, ainda cria a dúvida ao pessoal do downhill, que perante um traçado sinuoso e de dificuldade técnica um pouco mais baixa, vai começar a olhar para a bike de super-enduro que por acaso também está na carrinha, e se vai por a pensar se não será que aquela bike, mais leve, com mais resposta e mais ágil, não será uma melhor opção para aquela pista. E isto pode abrir o precedente de considerar o enduro uma espécie de “downhill com bikes de coroa simples” ou “downhill sem transportes", o que é muito redutor e demasiadamente longe do conceito do All-Mountain que esteve na origem do enduro enquanto vertente competitiva. E como os engenheiros continuam cheios de ideias, começamos a ouvir uns sussuros a perguntar… "será que o oito vai ser o novo seis?"


You never know what they'll come up with...



domingo, 30 de junho de 2013

Downhill is dead, climb for yourself


Já aqui tinha sido previsto que os canhões de DH iam entrar em declinio nos próximos tempos. Se Darwin olhasse para o mundo das bicicletas ia ver aqui algumas semelhanças com as teorias evolucionistas. O DH começou por ser um predador "generalista" e os trilhos que devorava eram igualmente generalistas. Nos anos 90 o DH era um conceito democrata, era para todos, para todos os tipos de massas corporais, era em quaisquer caminhos a descer, era nas mesmas bikes com que se ia provas de XC, talvez se tivesse escolhido logo uma máquina de sloping acentuado e para as provas de DH se lhe metesse um guiador elevado, mas as bikes eram as mesmas, as tais "generalistas".

Ainda se lembram do Turcifal?


Mas tudo evolui. E as tais generalistas, em 20 anos de evolução do downhill, tornaram-se em "chitas" altamente especializadas. Os trilhos evoluiram com elas para pistas de dificuldade inimaginável, continuando com a analogia, para "gazelas de grant", cujo único predador são precisamente as tais máquinas de DH especializadas. Mas isto incorre no problema da especialização: por um lado, nem ninguém com outro tipo de montada que não seja um "big rig"se aventuraria em pistas de classe mundial, nem por outro, ninguém se atreve a levar as "chitas de DH" a caçar outra coisa se não pistas de alto nivel de dificuldade. Nem foram desenhadas para outra coisa senão para isso. E tal como Darwin já tinha previsto, as espécies especialistas têm uma longevidade curta, e ficam reservadas a nichos onde determinadas condições naturais extraordinárias ocorram.

A antiga alternativa


O que me leva a escrever este post foi a visita que fiz durante as férias à Serra do Socorro, ao local em que apenas há 5 anos havia provas de uma bem viva taça de Portugal de DH e uma pista cuidada e limpa. Mas nessa visita, mal cheguei ao campo de futebol que acolhia o paddock dessa prova, percebi que algo  estava mal. O excesso de vegetação na rampa de acesso deixava adivinhar algo menos bom, mas foi quando vi o drop final e a vertical que lhe é alternativa, que  percebi que aquela, era mais uma "gazela de grant" que havia sucumbido ao declinio do DH.

No landing

As pistas de DH sempre precisaram de alguém que as construisse e cuidasse delas. Precisam de mimo  e de muito trabalho, de muitas horas de enxada. Seria de esperar que apenas florescessem junto a meios mecânicos ou grandes inclinações. Quer dizer, se vives em whistler hás de ter uma bike de DH e provavelmente és um traibuilder activo, ou então não vives em whistler mas tens um grupo de amigos que são teimosos e continuam a escavar furiosamente o monte lá ao pé de casa, mas mesmo estes, são cada vez menos. Depois do hype da modalidade na década de 2000, que foi tal que havia pistas em todo o lado, havia provas em todo o lado e toda a junta de freguesia organizava um DHU, vem a retracção da modalidade, que despojada de uma característica genética fundamental do MTB, a autonomia, vai continuar a sua especialização e afastamento da modalidade mãe, e muitas gazelas de grant, como a da serra do socorro, vão morrer.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

The vet

Se no passado já tinha dado provas do meu sentido de orientação e já me auto apelidava de “pombo correio”, agora que aliei um GPS a estas qualidades transformei-me num verdadeiro “drone”. E apesar de não andar a disparar misseis contra os talibãs, este Sábado assumi uma missão na zona de Sintra – descobrir o famigerado trilho das pontes. Carreguei um track GPS que passava por lá e que começava na mula e pus-me a caminho.  A serra ainda apresenta fortes indícios da “guerra” que lá houve no fim de semana do “alerta vermelho” por causa do vento e há montes de árvores ainda no chão. Uma constante neste sábado era o barulho de motosserras que ecoava um pouco por todo o lado. Depois de vários quilómetros a subir e depois da transposição, por vezes fácil, outras vezes muito difícil, de árvores que tinham caído, cheguei à curva onde começa o trilho para Colares. Mas, a apenas uns 10 metros desse local fiquei sem tracção, pois o cubo traseiro deixou de “agarrar” a cassete quando se pedala. 
 
 
 
A Pitch já andava a acusar desgaste no cubo traseiro há uns tempos. Já o tinha sentido, já tinha sido alertado pelo mecânico, mas como sempre, nas bikes, há que explorar o material até ao ultimo momento. O material é caro, é consumível, por isso há que usá-lo até ao seu ultimo sopro de vida. Foi uma pena ter rebentado precisamente ali, o que me impediu de ir finalmente visitar o trilho das pontes. Estava a uns quilómetros valentes do carro, mas tinha toneladas de energia potencial para gastar, pois estava mesmo num dos pontos mais altos da serra. O regresso ia ser uma tentativa de optimizar, em descida, o esforço das pedaladas que me levaram até ali. Pois bem, nessa curva, para a esquerda tinha o trilho de colares, mas que não me servia para chegar ao meu destino. À direita tinha o kamikas e não me servia para chegar vivo ao meu destino. Mas uns metros mais à frente vi uns putos, a entrarem num single track, e apressei-me a chegar ao pé deles. A minha primeira pergunta reflectia bem a minha preocupação: “isso por aí é sempre a descer?” e “dá para chegar à barragem da mula?”. Como obtive um sim a ambas as questões, apressei-me a explicar a minha situação de estar sem corrente e que por isso, me ia juntar ao grupo. Mas o momento que deu origem ao titulo do post estava por vir. Talvez por estar vestido de lycra, talvez por ter provavelmente o dobro da idade média deste grupo de putos, talvez pelo excesso de peso ou talvez pelo ar desanimado de quem já viu a sua voltinha estragada e se prepara para ir por a bike ao estaleiro, um deles diz “mas olhe que isto é complicado, o melhor é o senhor vir atrás de mim”. Gostei do “senhor”. Eles não sabiam, mas estavam com um veterano, provavelmente com mais horas de bike do que eles todos juntos. Mas nestas coisas, é sempre melhor poupar palavras e explicar com acções.
 
 
 
Começámos a descida e poucos metros depois vejo um deles a fazer um OTB numa zona relativamente fácil.Parámos, perguntámos se está tudo bem, e um deles começa assim a debitar uma série de indicações: "rabo para fora, pernas flectidas, olhos lá à frente", etc. Até que o rapaz tinha boa noção dos “fundamentals”, ao que eu ainda acrescentei “cotovelos levantados”. Tinha acabado de ganhar um bocadinho de respeito do grupo. Continuámos a descer, mas eu estava sem corrente, pelo que ia com alguma preocupação em não travar tanto para não perder o “momentum” e tive de começar a fazer ultrapassagens, uma delas por um salto. Confesso que uma parte da motivação para o ter feito foi mesmo o facto de não querer perder o embalo, mas a outra parte foi pura fanfarronice! E foi neste momento que o “senhor velhinho, com lycras e excesso de peso” passou a ser “um veterano do MTB, com equipamento técnico especializado e com o SAG do amortecedor ajustado ao seu peso”, o que, na paragem para reagrupamento seguinte, levou o rapaz que tinha dito para ir atrás dele a reconhecer o seu erro na minha avaliação e a dizer, entre risos e alguma surpresa, “afinal é melhor ir o senhor à frente”. Chegámos ao fim do trilho que desemboca no cruzamento da fonte (ao pé da estrada que vai para os trilhos da Malveira), despedi-me dos meus “pupilos” e segui pela estrada até à entrada Norte da pedra amarela. Daí , já conhecia o caminho. Depois de estonteantes 60kmh no estradão que serpenteia até à Mula, ainda consegui entrar em mais uma pista, que segue transversal a essa estrada. Ainda deu tempo para ir deixar a roda na 2cycling e confirmar os receios de que aquele cubo ou já era ou está quase a ir!